
Ainda no Kosovo, foi um trabalho dos diabos entender qual era o autocarro para Tirana. Uns diziam que era à entrada da estação, outros que tínhamos de estar na estrada e acenar quando víssemos o autocarro com Tirana escrito em letras garrafais, outros disseram que era impossível e tínhamos de ir de van (que era um táxi normal). Começamos a nos habituar, pois parece que naquela zona não há lugares oficiais para os transportes. Depois de algum tempo à espera apanhámos boleia até à primeira estação de serviço no inicio da autoestrada que nos leva à fronteira albanesa, porque ali é que era a verdadeira paragem. Um lodo tremendo. O autocarro apareceu e lá fomos nós em direcção ao meu 50º país.
Albânia era um país que me suscitava uma tremenda curiosidade.
Pela sua História, pelo seu exotismo.
A História da Albânia, como a de toda a região balcânica, é repleta de episódios sangrentos. É um dos países mais pobres da Europa que durante anos esteve fechado ao mundo e sujeito ao paranóico Enver Hoxha. Esta personagem tem muito que se lhe diga, mandou construir milhares de bunkers pelo país para se protegerem de um ataque que ele estava convencido que ia acontecer a qualquer momento. Nunca aconteceu.
De Tirana esperava pouco. Mas revelou-se melhor do que esperava. Não é propriamente, uma cidade turística com pontos de interesse mas é agradável envolvermo-nos no dia-a-dia da cidade.
Ficámos duas noites no Tirana Hostel Backpackers. Caminhámos sem destino com um mapa na mão pouco elucidativo do que era a cidade. Encontrámos uma igreja ortodoxa a Kisha Orthodhokse Ungjillëzimi , que nos chamou a atenção por ser muito grande, redonda, com uma torre de relógio, muito diferente do que já tínhamos visto até ali. A uns 20 minutos de distância fica a Praça Skanderbeg, talvez a zona mais turística que esta cidade tem. Nesta zona encontramos a estátua de Skanderbeg, a figura mais importante na História da Albânia, o Museu da História Nacional e a Et'hem Bej Mosque. Esta zona estava em obras por isso não deu para explorar muito nem encontrámos o Bunk'art2. Que fica para a próxima visita.
Não muito longe dali, do outro lado do rio, estava a Pirâmide de Tirana.
Dois dos pontos que me interessava em Tirana era exactamente a Pirâmide, um edifício que foi projectado para ser o museu sobre o legado de Enver Hoxha e o Bunk'art, o bunker oficial da elite política albanesa nos anos 70. O mapa offline enganou-nos e caminhámos cinco quilómetros (ao invés dos 2km que ele nos dizia) até lá chegar, visto ser na periferia da cidade.
Há entrada temos de passar por um túnel longo até chegar à bilheteira. Esta zona da entrada continua a estar militarmente activa. Pagámos o bilhete e com o áudio-guia nos ouvidos fomos conhecer mais um pouco da História.
É um lugar surpreendente mas francamente assustador.
As portas de betão são grossas e os corredores iluminados com luz fria são longos. Os sons que vamos ouvindo é de passos, sirenes, pessoas a falar.
Ao longo desses corredores existem salas onde a História Moderna da Albânia, desde a invasão italiana em 1939 até à queda do comunismo é nos explicada de uma maneira interactiva.
É um lugar gigantesco com cinco andares, com mais de 100 divisões e o Auditório, a área onde se reuniam lá dentro. Mas, na verdade, este lugar nunca chegou a ser usado para o fim a que estava destinado.
Percorri o espaço com uma mistura de medo e fascínio. Entrei nas divisões pertencentes a Enver Hoxha (que na verdade nunca usufruiu), e na secretária tem um telefone onde podemos escutar a voz dele em loop. Noutra sala podemos ver como eram as casas durante a Guerra Fria. Noutra a sala de reuniões, outra tem a dianteira de um camião de guerra na parede com som de movimento. E assim sucessivamente.
Mas a sala que me causou mais impacto foi uma sala vazia às escuras. Isso, mesmo, vazia às escuras. Lá dentro só se ouvia tiros. Eu sabia do que se tratava, tinham me falado, tinha lido sobre ela. Mas nada me preparou para me fechar naquela sala escura. Não cheguei a ficar 10 segundos lá dentro. Senti um medo irracional em todos os milímetros do meu corpo. E fugi dali.
Apesar de ter sido uma experiência forte foi um dos melhores museus que visitei ultimamente. Recomendo a todos, menos a quem sofre claustrofobia ou ataques de pânico.
Saímos dali ainda tontas com tanta intensidade e voltámos para o centro da cidade. Para acabar o dia fomos ao sky bar giratório de um hotel, que já foi o edifício mais alto da cidade. Relaxámos com Tirana aos nossos pés e brindámos à nossa sorte por podermos correr mundo.
Lá de cima a vista é linda.
No dia seguinte seguimos de manhã cedo para Berat.































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i heart you.
K.